Próximo de Kashan, na província de Esfahan, descobre-se uma povoação isolada, subsistindo da agricultura e de algum turismo. No seio do Monte Karkas surge a aldeia de Abyaneh, a 2235 metros de altitude. Os seus idosos aconchegam-se em 1500 anos de existência nesta terra, mantendo a prática do idioma persa médio caído em desuso no resto do país desde o século VII (o fim do período Sassânida).
População: uma dúzia de idosas aprontadas com traje tradicional, lenços brancos semeados de flores coloridas, roupas estampadas em tonalidades intensas, e com um faro especialmente desenvolvido para o negócio. De postura sábia e segura, permanecem sentadas estrategicamente nas ruas principais da aldeia para a venda de frutos secos e artesanato local.
Uma cor: vermelho ocre
A melhor forma de apreciar Abyaneh? Ao ritmo de passo errante. A aldeia ganha vida em ruas sinuosas vazias de pessoas quando se animam sombras à medida que a luz do dia vai caindo sobre as suas construções em tijolo de adobe e os seus antigos terraços de madeira quebradiços. A aldeia ganha cor. A cor do solo funde-se com o vermelho ocre dos edifícios, fazendo desta povoação uma terra e gente com carácter.
Uma expressão: Nágir! Nágir!
Quando uma velhota solta essa expressão em tom de refilona, a abanar um pau de madeira em gesto de ameaça, percebe-se que não nos está a convidar para beber chá. Várias vezes tentámos tirar um retrato dela, e tantos Nágir se seguiram que entendemos que a máquina fotográfica não era bem recebida. No entanto, pronta para o negócio, pôs as queixas de parte e levou-nos para uma sala aberta sobre a rua onde se encontravam espalhados pelo chão cartões desarrumados por vestes tradicionais para homem e mulher. Depois de nos vestir como marionetas, assumimos o papel de rurais abyanenses para uma sessão fotográfica. Este serviço pago valeu para a prova de uma nova moda como para uma série de retratos da senhora que já não resmungava frente à máquina.