Impressões do antes (ou, eu irei, ele irá...eles irão). No princípio era o verbo, a verba, e depois o destino. Para além de assumir a tradução portuguesa homónima do verbo propício à viagem, quando o Irão se torna destino e não verbo conjugado no futuro do indicativo, é pelo fascínio que ele provoca que se decide roer caminho até lá! Por ser um país embriagado em costumes alimentados pela sua língua - o farsi, pela sua história, por aquela religião - o Zoroastrismo, pelo seu povo, e até pela sua polícia, a dos costumes. Durante trinta dias vestimos essa cultura com vontade de saber o que é ter aquela visão, esta audição, muito paladar, algum tato e um olfato persa, no masculino e no feminino. Fazemos as malas do estrito necessário, dobrando a novidade e o inesperado para deixar espaço para o que trouxermos de lá.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A gruta do Ali Babá é uma casa de chá



Para lá entrar não tivemos de proferir abre-te Sésamo, empurrámos a porta, penetrámos no coração duma nave de majestade empoeirada, onde tropeçámos o olhar num sem fim alucinante de velharias suspensas, cobrindo por camadas sucessivas a epiderme de paredes arqueadas. Naquelas paredes acastelavam-se uma curiosa e miúda legião de lanternas, vasos, quadros, esculturas de madeira, bules, relógios de pêndulo, de bolso e shishas em perfeita anarquia. A fumarada langorosa das shishas denunciava a sua exclusividade de casa de chá. O tumulto da arrumação revelava indícios do pouco tempo que nos restava para vadiar regaladamente neste esconderijo moldado ao bazar de Esfahan. Estávamos na Chaykhaneh-ye Azadegan (a casa de chá Azadegan).

O mais cativante, no entanto, não era um tesouro numa caverna. Era um velho, emagrecido, entre rugas fundas, de cabeça curvada, murmurando nas suas profundidades o montante das notas que rareavam na caixa para abundar nas suas mãos. De rosto moído num queixume, espalhava por nós um olhar já de impaciência com o ruído de cada fotografia tirada. Mas nós queríamos lá permanecer ou levar uma versão portátil desta casa de chá, para frequentar a caverna do Ali Babá, em latitudes mais ibéricas.









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