Para lá entrar não tivemos de proferir abre-te Sésamo, empurrámos a porta, penetrámos no coração duma nave de majestade empoeirada, onde tropeçámos o olhar num sem fim alucinante de velharias suspensas,
cobrindo por camadas sucessivas a epiderme de paredes arqueadas. Naquelas
paredes acastelavam-se uma curiosa e miúda
legião de lanternas, vasos, quadros, esculturas de madeira, bules, relógios de
pêndulo, de bolso e shishas em perfeita anarquia. A fumarada langorosa das shishas denunciava a sua
exclusividade de casa de chá. O tumulto da arrumação revelava indícios do pouco tempo que nos restava para vadiar regaladamente neste esconderijo moldado ao
bazar de Esfahan. Estávamos na Chaykhaneh-ye Azadegan (a casa de chá Azadegan).
O mais cativante, no entanto, não era um tesouro numa caverna. Era um velho,
emagrecido, entre rugas fundas, de cabeça curvada, murmurando nas suas
profundidades o montante das notas que rareavam na caixa para abundar nas suas mãos. De rosto moído num queixume, espalhava por nós um olhar já de impaciência com o
ruído de cada fotografia tirada. Mas nós queríamos lá permanecer ou levar uma versão portátil desta casa de chá, para frequentar a caverna do Ali Babá, em latitudes mais ibéricas.
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