Impressões do antes (ou, eu irei, ele irá...eles irão). No princípio era o verbo, a verba, e depois o destino. Para além de assumir a tradução portuguesa homónima do verbo propício à viagem, quando o Irão se torna destino e não verbo conjugado no futuro do indicativo, é pelo fascínio que ele provoca que se decide roer caminho até lá! Por ser um país embriagado em costumes alimentados pela sua língua - o farsi, pela sua história, por aquela religião - o Zoroastrismo, pelo seu povo, e até pela sua polícia, a dos costumes. Durante trinta dias vestimos essa cultura com vontade de saber o que é ter aquela visão, esta audição, muito paladar, algum tato e um olfato persa, no masculino e no feminino. Fazemos as malas do estrito necessário, dobrando a novidade e o inesperado para deixar espaço para o que trouxermos de lá.

sábado, 20 de outubro de 2012

Darvish Tea Shop é assim: Um chá, dois chás, três chás!




Encontramos em Teerão um dos bazars mais labiríntico do Irão, sendo um dos cantinhos de chá mais pequenos. Foi por acaso que uma ruela em pleno bazar nos levou até esta "casinha" escondida. O conceito de casa pequena talvez seja muito até com o sufixo diminutivo. O Darvish é apenas uma bancada e umas estantes num espaço de 2 m2, onde dois homens fazem do seu dia a dia servir chá aos bazaris (quem trabalha no bazar) e aos visitantes. Este cantinho mantém-se fiel há 110 anos ao que mais hidrata os iranianos.
O mais velho é tio do mais novo. O mais novo é neto do fundador. Paradoxo de idades ou não, a verdade é que o tio tem como responsabilidade percorrer o bazar para distribuir chá aos seus negociantes, enquanto que o sobrinho fica de pé atrás do balcão, firme para servir quem pare a caminho da madraseh (escola de mullahs - personalidade da hierarquia religiosa islâmica xiita) para matar o vício, e aproveite à saída da madraseh para pedir outro.



No Irão bebe-se , em média, quinze chás por dia. Competir com a bica portuguesa? O vício é bem maior. Enraizado na cultura, torna-se instintivo fazer do chá a bebida que acompanha o iraniano a qualquer hora do dia e da noite. Mentira seria dizer que já não entramos também nessa rotina, mas o Darvish não só nos serviu chá como nos proporcionou alguns encontros. Apesar de só caberem duas pessoas na largura da ruela e de se perturbar por vezes quem quisesse passar sem parar, foram vários que nos ofereceram chá, ficaram à conversa e acabaram por propor receberem-nos em sua casa.



No Darvish, orgulhavam-se de se lembrar dos estrangeiros que lá tinham passado para provar o seu chá. A única fotografia exposta no muro (para além das obrigatórias Ayatollahs Khomeini e Khameinei) era do avô e dum cliente belga. Por isso, antes de nos despedirmos, decidiram tirar-nos uma fotografia semelhante à que tinham exposta do avô a servir o chá ao belga tal como nos serviram a nós. Pela quantidade de chás que lá bebemos e que nos foram oferecidos pelos donos, pelas lembranças que nos deram quando nos despedimos, pela simpatia que revelaram e por termos sentido aquele gosto particular em ter encontrado o ponto nevrálgico do chá paradoxalmente minúsculo e invisível das ruas principais, tirámos uma fotografia instantânea para poderem colocá-la ao lado da do avô.

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