Impressões do antes (ou, eu irei, ele irá...eles irão). No princípio era o verbo, a verba, e depois o destino. Para além de assumir a tradução portuguesa homónima do verbo propício à viagem, quando o Irão se torna destino e não verbo conjugado no futuro do indicativo, é pelo fascínio que ele provoca que se decide roer caminho até lá! Por ser um país embriagado em costumes alimentados pela sua língua - o farsi, pela sua história, por aquela religião - o Zoroastrismo, pelo seu povo, e até pela sua polícia, a dos costumes. Durante trinta dias vestimos essa cultura com vontade de saber o que é ter aquela visão, esta audição, muito paladar, algum tato e um olfato persa, no masculino e no feminino. Fazemos as malas do estrito necessário, dobrando a novidade e o inesperado para deixar espaço para o que trouxermos de lá.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Casualidade instantânea



Quando aterrámos em Teerão, o acaso foi nosso amigo e deu-nos as boas vindas. Estávamos a pisar solo iraniano, há 5 minutos, quando Behjat meteu conversa connosco. Behjat está nos seus entas e é o protótipo da super-mulher, de uma senhora de negócios e mãe de três filhos.

Convidou-nos para irmos à sua casa e abriu-nos as portas dum apartamento num prédio que lhe pertencia, a ela e ao esposo Mo. Eles dormiam no último piso do prédio, nós passávamos a noite no andar inferior. Fizeram do prédio um lar e um foco de trabalho com dois andares de escritórios, no norte de Teerão. We made our office our home, and we brought our home to our office, justificaram. O casal navega no mar dos negócios de exportação, mais concretamente maquinaria referente à indústria petrolífera. Vivem entre Atlanta e Teerão. E conheceram-se assim:

Ele – I was her neighbour, a good neighbour.
Ela – A neighbour for life!

Para quem ainda esteja parado na parte do prédio ser todo deles, esqueçam a excentricidade. Acolheram-nos durante três dias com uma espécie de paternidade aconchegadora, no meio duma cidade com 12 milhões de pessoas. Mo, diminutivo de Mohammed, grande orador que nos deu a conhecer um pouco da cultura persa, os seus poetas, a sua política e a sociedade que observam já com algum distanciamento de emigrante. Mas ao longo dos jantares ia deixando o lirismo dos poetas persas para começar a manejar a língua farsi como um brinquedo:

-Mo alone is a shortcut for Mohammad, Mos in farsi should be shortcut for two Mohammads but no, it means banana. Don’t ask for two teas. Asking for two teas in farsi (do chay) is like asking for a parrot and you’ll just look like an idiot.

Nesses jantares, não fazíamos jogos de palavras mas relatávamos o nosso dia de descoberta da cidade. Mo e Behjat riam-se por termos estado em sítios que eles próprios desconheciam. Na hora da despedida, ficámos sem palavras quando em tom de desabafo, confessaram que o fruto do nosso encontro esboçou o desejo de viajarem pelo Irão e conhecerem o mundo para aproveitar a vida de outra forma.

Ela – We want to connect with culture. We want to connect with nature.
Ele – There’s probably no age to do it, we can still do it.
Ela consente.

1 comentário:

  1. Grande Pedro! Continua a enviar-nos as tuas histórias. Elas são a melhor parte de qualquer viagem e deixam-nos com uma pontinha de vontade de irmos também em busca das nossas próprias histórias. Mila

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